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PLURAL: os textos de Márcio Bernardes e Rony Cavalli

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A poesia nossa de cada dia
Márcio de Souza Bernardes
Advogado e professor universitário


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Sinto falta da literatura, em especial da poesia, nas folhas dos jornais. Era comum um suplemento literário na imprensa brasileira, onde eram publicados contos, crônicas e poesias, e, como toda a arte, contribuía para expandir horizontes, nos colocar diante de um espelho, inquietar, fazer refletir sobre o mundo. Ao folhear algum jornal diário nos deparávamos com poemas de figuras como Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Mário Quintana, entre muitos outros.

      A partir de 1964, e durante quase todo o período da ditadura civil-militar no Brasil, com o punhal da censura sobre as suas cabeças, os jornais publicavam, entre notícias políticas e outras notícias mundanas, além de receitas de bolo - algumas sem sentido - poemas de Luiz de Camões, e outros clássicos da literatura. Era uma forma de mostrar que estavam sob censura e, ao mesmo tempo, provocar alguma reflexão, ainda que sutil.

De todos os gêneros literários, o que mais se perdeu foi o lírico. Grave sintoma dos nossos tempos! Com a perda do lirismo, perdemos junto a esperança, o motor da luta por um mundo melhor, mais justo, mais humano. Por isso, resolvi, hoje resgatar um pouquinho disso tudo.

TEMPOS SOMBRIOS

Mais do que nunca, precisamos da arte, que denuncia, que dá esperança, estímulo e força para não nos entregarmos nestes tempos sombrios. Para isso, escolhi um poema de Luiz Eurico Tejera Lisboa, que viveu em Santa Maria entre 1967 1968. Ico, como era conhecido, foi estudante de economia na UFSM, casado com Suzana Lisboa e irmão do músico Nei Lisboa. Fui um grande poeta, silenciado em 1972, aos 24 anos, quando foi morto pela ditadura-civil militar. Mas Ico está presente, continua nos trazendo esperança, com um poema para lá de contemporâneo, escrito em 1968, nesta cidade de Santa Maria:

Há um povo que sofre

Há um povo que geme

E há outros

Como eu

Que embora

Saibam desse sofrimento

E ouçam esses gemidos

Não sofrem

E não gemem.

Nestes tempos sombrios, com um governo tomado pela ala militar que cultiva a morte e dá suporte à necropolítica de Jair Bolsonaro, que os jornais passem a resgatar o lirismo, e a força das palavras, não para driblar a censura, mas como um grito. Que em nosso café, com o jornal, possamos degustar a esperança na poesia nossa de cada dia.

Brasil socialista
Rony Pillar Cavalli
Advogado e professor universitário


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Htempo, venho dizendo que somos mais socialistas do que capitalistas, mas quando falei isto sempre fui apedrejado e acusado de que sou paranoico em relação a esta percepção.

No entanto, antes eu me referia meramente ao aspecto econômico, visto que falava que se colocarmos o Brasil em uma régua, com o capitalismo em uma extremidade e o socialismo em outra, minha conclusão era que o Brasil está mais próximo da extremidade do lado do socialismo.

Minha percepção era de que no Brasil até mesmo os empresários têm espírito socialista e estão sempre esperando ajuda ou incentivo estatal e ainda me referia aos enormes entraves e intervenções estatais, como especialmente à ausência de liberdade econômica em nosso sistema.

Se compararmos o Brasil com outros, cuja liberdade econômica é um valor absoluto, como os países nórdicos, vamos perceber facilmente que estamos mais próximos de países como a Venezuela do que dos países que lideram o ranking de liberdade.

O ranking leva em consideração quatro aspectos:1) Estado de Direito; 2) Tamanho do Governo; 3) Eficiência Regulatória; e 4) Mercados Abertos. Na pontuação de 0 a 100, é considerado um país livre aqueles com pontuação superior a 80 pontos, Majoritariamente Livre de 70 a 79,9, Moderadamente Livre de 60 a 69,9, Majoritariamente Não-Livres de 50 a 59,9 e reprimidos menos de 49 pontos.

O líder é Hong Kong com 90,2. O Brasil é ranqueado com 51,4, abaixo de países como Uzbequistão e Serra Leoa. A Venezuela possui 25,2 pontos, o que autentica minha fala de que somos mais socialistas do que capitalistas.

Como falei, minhas percepções eram no campo econômico, porém, considerando os últimos acontecimentos, se os dados forem atualizados, despencaríamos e colaríamos na Venezuela.

AMORDAÇAMENTO

A caça às bruxas instalada pelo STF em perseguição a jornalistas, com ordens judiciais para bloqueio de suas contas em redes sociais, em verdadeira ação de amordaçamento e de quem não aceita ser criticado é medida de estado totalitário, de espíritos que "flertam" com regimes de exceção e entendem por liberdade de expressão apenas as manifestações com quais concordam. 

Vemos a esquerda comemorando tais medidas porque atingiram adversários políticos. Vê-se claramente que democracia não tem o menor valor para eles e que no Brasil a surrada máxima que diz "não concordo com nada do que você diz, mas lutarei sempre pelo direito de dizê-lo" é retórica vazia e a maior ameaça à liberdade de expressão positivada entre as garantias de nossa Constituição vem de seu "Guardião" que deveria ser o STF.

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